segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Leandro Villela de Azevedo


Nome:
Leandro Villela de Azevedo
Formação:
Doutorando em História Social - USP
Mestrado em História Social - USP
Bacharelado e Licenciatura em História - USP

Escola:
Escola Villare – São Caetano do Sul, SP
Área de Atuação:
Professor de História e Filosofia
Professor de Projetos Multidisciplinares
Formação de Professores
Empresa:
Repensando Educação


Outros:
Especializado em jogos educacionais, Autor de diversos livros na área educacional, como RPG e Educação, Coleção Infância Feliz (História), Conhecer e Descobrir (História-EJA), Cruzadas (Livro Jogo), entre outros

Denúncia Nônima


Denúncia Nônima


Nós professores sabemos que a educação no Brasil vai mal, vai muito mal por sinal. E arrisco a dizer que ninguém melhor do que nós, para saber a causa disso, assim como creio que motoristas de ônibus e táxis entendam mais de trânsito do que eu, e que, eu creio, médicos e enfermeiros saibam mais do que ninguém os reais problemas na questão da saúde no Brasil.
Devo conhecer pelo menos algumas centenas de professores, provavelmente esse número ultrapasse a casa do milhar, mas nunca conheci um único professor que seja que olhe para a questão da educação no Brasil e ache que tudo está ótimo. Veja bem, sei que a revista de maior circulação em nosso país tem muito mais visão do que eu, o próprio nome da revista já indica que eles sabem ver o que está acontecendo, mas bem que eu ainda queria saber onde eles acharam aqueles mais de 90 % dos professores que dizem que vai tudo bem na educação nacional. Se algum desses professores passar por aqui, por favor, deixe recado, gostaria muito de achar um professor que fosse que pensa assim (a não ser é claro professores universitários,  ou teóricos da educação que não entram em uma sala de aula de fundamental e médio há mais de 15 anos.)
A culpa é do professor? Claro que temos uma parte da culpa, mas parte dessa culpa é da fraqueza de não desanimar quando vemos nosso carro recém comprado, e parcelado em anos, ser depenado pelo pessoal do tráfico por ter "atrapalhado" o seu revendedor em sala de aula, quando resolveu “invadir” o “espaço deles” e dar aulas, ou quando o professor não consegue seguir com rosto erguido após ser alvejado com ovos por um aluno que se irritou com a nota, e a escola teve como única atitude pedir para o professor compreender se tratar apenas de uma “criança” de 15 anos! O professor não tem "coragem" de enfrentar o seu aluno LA (liberdade assistida) só porquê recebeu ameaças de morte dele, e sabe que as últimas vezes que ele ameaçou, ele cumpriu.
Mas deixando o sarcasmo de lado, pelo menos uma culpa acho que vale a pena admitir. Muitos professores estão negando a si mesmo o direito de ter voz, e estão se calando, aceitando, ficando doentes, desanimados, morrendo por dentro, ao invés de levantar a voz e propagar a sua opinião. Durante alguns anos trabalhei em uma escola onde denúncias anônimas era algo frequente. Todo e qualquer professor que ousava discordar de qualquer atitude tomada por parte da direção e coordenação eram demitidos. Era uma escola familiar, destas que cresceu muito rápido e não estava preparada para ser escola grande. Certa vez uma professora foi demitida por em seu orkut fazer um comentário negativo a outra professora, alguém da escola viu, pronto: "a porta da rua é serventia da casa". Então, nesta escola, onde éramos humilhados pela direção diante dos alunos, no meio da aula (e eles queriam depois que os alunos nos respeitassem) era comum fazermos denúncias anônimas no sindicato, dividíamos entre nós quem faria que denúncia a cada semana.
Quase uma década se passou. Aprendi alguns anos atrás que denúncias anônimas não adiantam de nada, denúncias precisam ser nônimas, e arca-se com as consequências. Daquela escola, por exemplo, além de ser demitido, fiquei "queimado" no mercado por más referências por um ano, mas valeu a pena, hoje trabalho em uma escola com a qual me identifico, e o que parece mais mais incrível, toda vez que discordo de algo posso falar abertamente. Mas falar dentro de uma escola onde as coisas estão, na maior parte das vezes, funcionando, não é o suficiente, é necessário dar uma força maior a essa voz. É preciso que ela seja nacional! O Brasil está precisando de denúncias nônimas. Outros profissionais estão tomando a nossa voz falando sobre educação. Está vindo de políticos, teóricos da educação, psicólogos e às vezes até de jornalistas as opiniões sobre o que está errado na educação e as tentativas de mudança. Vejam, assim como é fácil para alguém querer pôr a culpa da saúde pública nos médicos, pôr a culpa do transporte público nos motoristas de ônibus, também é fácil por a culpa da educação brasileira nos professores.
Mas pelo menos uma diferença se destaca. A função do professor é ensinar o aluno a interagir com o mundo, a se expressar, a argumentar, a ter e saber usar ferramentas para fazer valer seus sonhos nesta vida. Assim como é inconcebível um protesto de motoristas não ocorrer por falta de alguém que digija ônibus para levá-los ao lugar do protesto, ou um protesto de artistas que não utilize formas criativas de manifestação, é impossível ter de aceitar que não haja um protesto dos professores pelo simples calar-se. Agora é a hora das denúncias nônimas, da resposta a cada crítica e do demonstrar os problemas que estão ocorrendo na nossa educação, sejam quais forem, para que algo seja feito, tanto por nossa parte, professores, como pelos outros que podem e precisam contribuir. Afinal melhorar o futuro de nosso povo não é algo que será benéfico apenas para nós.
E espero que esse canal que estabelecemos aqui, o Opinião, possa receber muitas participações de muitos professores, ainda que, e especialmente se, pudermos ter divergências de opiniões, pois só assim poderemos crescer.

Inclusão da Exclusão


Inclusão da Exclusão


Inclusão nas escolas não é algo novo. Lembro-me muito bem que há 8 anos tive o meu primeiro aluno de inclusão. Não nos foi explicado muita coisa, a não ser que ele tinha algum tipo de deficiência mental e que a ele não se aplicavam as  mesmas regras dos outros alunos. O discurso foi rápido e simples: “pela nova política do governo somos obrigados a aceitar alunos com deficiência mental, ele está aqui mais para aprender convívio humano. Ele não tem a capacidade de aprender como os outros, deve participar de todas as atividades que os outros participam, mas ele nunca reprovará, nem receberá errado em nenhuma questão, simplesmente o deixem na sala e garantam que os outros alunos convivam bem com ele”.
Como naquela época inclusão era novidade, os professores ficaram um pouco chocados com a notícia, alguns apoiavam em gênero número e grau a atitude do governo de incluir, outros defendiam em alta voz que aquilo era um absurdo, mas a maioria, como eu, apenas esperava, meio aturdidos, sem saber o que fazer, mais instruções ou orientações de como lidar com o menino, demonstrando sim receio de não dar contra de algo tão diferente em sala, ao mesmo tempo que, como devia ser natural dos professores, com certo gostinho de desafio pela frente. No meu caso o desafio seria provar que o menino não era tão incapaz quanto diziam.
Hoje inclusão não é mais novidade. Mas em 99% das escolas ainda parece ser. O número de alunos considerados de inclusão aumentou drasticamente. Ao menos nas escolas particulares aqui de SP, é raro achar um professor que nunca tenha tido ao menos um aluno nessas condições. Algumas instituições, inclusive, parecem ter virado máquinas de produção de laudos de algumas daquelas famosas siglas que geram "inclusão", mas, na maior parte dos casos alunos continuam sendo entregues como aquele: "esse é um aluno de inclusão" ... e ponto final. A diferença é que os professores não acham mais tão estranho, os embates são menos acalourados, e especialmente, ninguém espera mais receber auxílio e treinamento de como lidar com esses casos, pois simplesmente esperaram por muito tempo que alguém viesse ao seu auxílio, e nada. É certo que algumas escolas são excessão e que alguns professores, independente de sua instituição, também são excessão, por aceitar pagar do próprio bolso, e dispender de seu próprio tempo (pois só sendo professor para entender o porquê do tempo do bom professor ser tão escasso) e fazer um dos raros cursos sérios por contra própria.
Quando ouvi falar a primeira vez sobre inclusão, ouvi que haviam alunos cegos com profissionais que lhes auxiliavam no braile durante as aulas, alunos surdo-mudos que tinham um "tradutor" de LIBRAS (linguagem de sinais) em sala de aula. Aquilo parecia fantástico, imaginem o quanto aprenderíamos com um desses profissionais quando o aluno de inclusão viesse acompanhado desse apoio. Estranhamente, nesses 8 anos, tive um total de 18 alunos de inclusão, que estavam “incluídos” em escolas “normais”, mas nunca tivemos um único profissional, nem que fosse por 5 minutos, especializado naquela doença, para nos orientar. Ainda porque, a deficiência desses alunos era mental, e não deficiência auditiva ou visual.
Uma dessas escolas sempre se esforçou muito com cursos, leituras e reflexões sobre essa dificuldade, e isso faz toda a diferença; mas a não ser esse esforço de uma entidade em particular, nunca vi um apoio real vindo com a tal lei da inclusão.
Mas isso em si não seria o pior problema, como eu disse, parece de certa forma natural que professores gostem de desafio. Mas é necessário saber medir o seu desempenho, e em especial, ter claro os objetivos por traz da ação. Aquele primeiro aluno, no princípio, conseguiu até que com relativa facilidade lidar com a inclusão. A sala achava engraçada a sua forma de agir e parece que ele gostava de ver que estava despertando riso nos colegas.
Mas quando o riso de brincadeira se torna chacota (e é muito tênue a linha que separa uma coisa da outra) a pessoa que não sabe se expressar por palavras usa a violência. Acontece que por ser de "inclusão", não havia o que se pudesse fazer com o menino, nem tirá-lo da sala, e parece que ele se divertia muito mais em causar dor do que risos.
Se já é difícil lidar com crianças, imagine quando um lado se sente diminuído ao ver que o colega bate nos outros, e nada acontece com ele, ao mesmo tempo aqueles que fazem qualquer brincadeira com ele recebem punição dobrada. Por que ele não faz prova como os outros, só pinta desenhos? Por que quando ele picou a prova  dele e de outro aluno nada ocorreu com ele?
A falta de informação dada aos alunos só deixava a inclusão cada vez um nome mais cruel para o que realmente estava ocorrendo aos que o excluíam de todas as formas possíveis. Resolveram então abrir o jogo com a sala, e a situação se tornou ainda pior, muitos alunos começam a querer se tornar de "inclusão", afinal, alguns deles tinham problemas de nota e de certa forma realmente tinham alguma dificuldade, ainda que não pudesse ser incluída na categoria "inclusão.
8 anos se passaram. Também se passaram várias escolas do minha vida, inclusive em uma destas tive uma maravilhosa e triste experiência que relato em "quando raciocínio vira BigBrother" Mas é certo que as escolas ainda não estão nem um pouco "inclusivas". Algumas simplesmente por falta de qualquer vontade em se adaptar, afinal é cômodo "jogar" um aluno pagante sobre o qual não há qualquer necessidade de olhar especial, apenas instruindo os professores a "ele não vai fazer nada e vai ser aprovado". Mas a questão é que mesmo as escolas mais esforçadas neste aspecto, e graças a Deus atualmente estou em uma dessas, mesmo estas muitas vezes precisam se desdobrar para achar profissionais especializados que possa instruir os professores, enviar seus professores a cursos em raras instituições que se dedicam a isso. Normalmente as associações que dão os laudos de inclusão não se preocupam em instruir como lidar com aquele aluno. E quando existe alguma comunicação, é por esforço individual.
Será que uma questão tão moderna como a inclusão, colocada de cima pra baixo pelo governo, não precisaria de uma igual estrutura governamental para que funcionasse na prática? Ou será que assim como computadores apodrecem após serem comprados e instalados nas escolas, por questões burocráticas, também os nossos alunos e professores precisarão apodrecer para alguém comece a pensar o que fazer com eles?

Quando Alunos Viram Fuscas

Quando Alunos Viram Fuscas

Confesso com muita sinceridade que não faço a menor idéia se os meus textos despertarão interesse nos professores e público em geral. Digo isso pois, hoje em dia, há muita gente falando sobre educação, especialmente gente que nunca entrou em uma sala de aula para lecionar, ou a última vez que o fez foi em épocas dinossauricas, o que o faz ter um conhecimento completamente deturpado da realidade das escolas brasileiras da atualidade.
Entretanto, um texto de um certo "teórico" da educação, famoso na modernidade, me despertou mais interesse do que outros. Infelizmente, entretanto, um interesse negativo.
Este homem, com diversas publicações na área educacional, de livros que ficam entre auto-ajuda e conto de fadas estilo Esopo, com intenso pedantismo e apelo a um falso emocionalismo, serviu para muitas pessoas se irarem contra os professores e fazer com que muitos colegas meus desanimassem e se sentissem péssimos, enquanto eu vendo de fora sabia o valor fantástico do trabalho deles.
Em um de seus textos, com versão inclusive em audio-livro, lido pelo próprio autor, ele conta a história de uma velha professorinha e seu fusquinha velho. Nesta história o fusquinha da professora dá problemas e ela o leva ao mecânico, este desmonta todo o motor e não para de buscar a causa do problema até o encontrar em uma análise minuciosa de cada peça. Ao invés de apenas desistir por poder achar que se tratava de um caso "sem solução" o mecânico não desiste, dedicando-se a semana inteira buscando o problema.
Então, utilizando esse critério comparativo, esse autor compara o mecânico dedicado aos professores, como que com um tapa doloroso, dizendo que, se ao invés deles reclamarem dos alunos realmente se dedicassem por completo em achar a causa do problema e dar a solução, eles conseguiriam resolver o problema.
Mas o caro colega (de escrita) cometeu terrível sacrilégio nesse texto. Primeiramente seu mecânico dedicado, que pode dedicar-se uma semana a desmontar e remontar um motor e consertar qualquer defeito, é um personagem lendário. Duvido que haja mais do que um ou dois que ainda em suas oficinas possam se dedicar uma semana inteira a um ato como esse, tendo tal proficiência e podendo sustentar a si e a família apenas com consertos como este.
Ainda que tal mecânico existisse, gostaria de saber se tal “gênio” dos motores seria capaz de montar e desmontar 600 motores diferentes, com problemas diferentes, tendo apenas 45 minutos por semana com grupos de 40 fuscas diferentes por vez.
Antes de haver a resposta, complico mais o desafio, imagine que os fuscas fossem muito carentes e quisessem chamar a atenção para si a cada momento, que deixados de lado por um instante quando a atenção fosse dada a um ou outro automóvel em especial, eles começassem a bater um no outro ou colocar papéizinhos no escapamento do fusca ao lado, e além disso o coordenador da mecânica viesse cobrar outros tantos itens burocráticos necessários.
Ainda que tal proeza fosse possível para um misto de Super-homem com visão de raio-x, inteligência do  Batman e rapidez do Flash, ainda assim tal autor teria cometido um erro terrível. Crianças, jovens, adolescentes, não são fuscas. Não são puramente peças mecânicas. Um bom cirurgião saberia explicar melhor do que eu as infitinas diferenças entre querer trocar todo óleo do motor de um carro ou todo o sangue do corpo de uma pessoa, e porque trocar o óleo seria eficiente para um problema do motor e trocar o sangue não traria a cura da AIDS, mas o problema é ainda mais complexo. Transplantes são complexos e tem risco de rejeição, mas o conhecimento não é algo físico.
Talvez algum dia seja possível operacionalizar sinapses nos neurônios e gravar conhecimento em um cérebro (sinceramente espero que não, imagine esse poder sendo usado para o mal) mas nesta impossibilidade, temos que tratar o conhecimento de forma muito mais complexa. O processo de cognição leva em conta apectos psicológicos, emocionais, da fé, da estruturação prévia de raciocínios e conceitos, estes que por sua vez não podem ser visualizados materialmente por qualquer desmontagem física, e que por sua vez, dependem de vários outros fatores, como estrutura familiar, cultura na qual está inserida, etc.
Sendo assim, de tudo o que é preciso a um professor, o que me parece menos necessário é "desmontar" um aluno, pelo contrário, o conhecer "como um todo" vê interações que não podem ser percebidas na compartimentalização das matérias, e que só fazem sentido no todo.
É claro que todo professor com um pouco de consciência sabe que ele é insuficiente, sabe que o seu trabalho é muito pequeno perto do que seria necessário para auxiliar o aluno a resolver todos os seus problemas internos e permitir, assim, que ele tivesse uma interação saudável com seus objetos de estudo, havendo aprendizagem de boa qualidade. E igualmente sabe que por mais que se esforce, as condições da educação, o tempo com o aluno, a relação-professor-aluno-família-escola, podem ser empecilhos complexos.
Agora, o que muitos professores não se dão conta, mas é indispensável para nós termos em conta, é a nossa capacidade de, mesmo não sanando "o defeito"  do indivíduo, pois sempre há infinitas coisas a se trabalhar, temos a incrível capacidade de transformar as pessoas, de ajudá-las a repensar suas atitudes, sua relação com o saber, causar nelas uma paixão pela vida, de conhecimento ... é claro que é impossivel chegar a todos, dependendo da conjuntura é impossível chegar mesmo a poucos, mas se cada professor puder trazer esperança, paixão por viver e por saber e vontade, construir um mundo melhor a um único aluno que seja em cada classe, teremos conquistado centenas deles no decorrer de nossa carreira (ou dezenas no caso de professores de fund I) e certamente podemos olhar pra trás e sabendo que mesmo não sendo capazes de ser mecânicos super-heróis, pudemos ajudar a criar um mundo mais humano, onde cada vez mais as relações maquinais é que estão imperando.

A gente faz o que quer? Desde quando?



A gente faz o que quer? Desde Quando? 



O canal de TV à cabo Cartoon Network lançou recentemente uma campanha para atrair o público infanto-juvenil cujo slogan era: “A gente faz o que quer”. Nessas propagandas, diversos personagens da programação de desenhos animados apareciam fazendo “coisas que queriam”. Algumas vezes nada muito fora do comum, como tirar meleca do nariz, outras vezes faziam coisas inusitadas, possíveis somente aos desenhos animados, sem acarretar sérios danos para o indivíduo.

E alguém pode perguntar: o que há de errado nisso? A princípio, nada de errado. Não há nada de nocivo ou errado quando a criança que recebe esse tipo de mensagem tem uma educação sólida em casa, embasada em certos valores, onde essa criança aprende a ter limites, e também aprende que existe sempre a consequência para nossas ações.

Cada vez mais vemos nas escolas o comportamento abusivo de jovens e crianças. Essas que não acreditam que são capazes de serem educadas, pois existe uma inversão de valores em muitos lares, que leva essas crianças e jovens a confundir educação com mera punição.

Pais e filhos encontram-se perdidos, sem saber qual é o seu papel dentro da estrutura familiar, e isso se reflete na nossa sociedade atual.

Quando pai e mãe têm de sair para o trabalho e deixar em casa, muitas vezes sozinho, o filho adolescente, ou mesmo criança, muitas vezes para compensar essa ausência permitem que o filho tome atitudes e escolhas prejuciais a si mesmo, a longo prazo; pois essa criança ou jovem não está preparada para ouvir um NÃO sequer dentro de casa. É compreensível, porém mesmo assim não cabível esse tipo de atitude por parte dos pais e familiares. A criança necessita ouvir não, arcar com as consequências de seus atos desde cedo, para que saiba como agir no mundo, que não terá tanta condescendência.
A televisão está servindo como uma babá em muitos lares, o que torna a educação comprometida, uma vez que a televisão pouco se importa com a educação, importando-se apenas em vender um produto, e para isso a propaganda fabrica consumidores desde cedo, buscando atingir cada vez mais as crianças. E para isso, lançam e criam, inventam o que for necessário para garantir o consumo, nem que seja baseado em uma mentira do tipo “a gente faz o que quer”.

Pode parecer apenas um slogan inocente, que na verdade está apresentando a programação de desenhos da rede; porém, esse tipo de resposta: “eu faço o que quero”, “você não é meu pai” ou “eu pago essa escola”, cada vez mais são ouvidas por professores na sala de aula, e certamente que um slogan como esse perpetuam na cabeça dessa criança que ela tem o direito de não respeitar os limite impostos para a vida escolar, uma vez que acredita que pode fazer o que quer.

Não consigo fazer uma previsão de qual será o fim de tudo isso, o que acontecerá a esses jovens quando forem lançados ao mercado de trabalho, à vida adulta, ou o que acontecerá a essas crianças quando forem lançados à vida, onde – na maioria dos casos – chegará o momento em que papai e mamãe não poderão mais protegê-los e encobrí-los de certas atitudes.

Certamente que “a gente NÃO faz sempre o que quer”. Porque fazer o que se quer sempre tem um preço muito alto, e a maioria de nós não tem a disposição ou a menor condição de pagá-lo. Os presídios, os hospitais e os cemitérios estão aí para nos garantir isso.